quinta-feira, 27 de junho de 2013

Indignar-se, patrimônio da humanidade. Agora, o Brasil .

Esther Vivas
fonte: http://esthervivas.com/portugues/ 
Inesperada, intempestiva, não anunciada, assim se apresenta a indignação. Vimos isso em Túnis, no Egito, na Islândia, no Estado espanhol, mais recentemente na Turquia e, agora, no Brasil. A estrela indignada surpreendia a todos e hoje se repete na história com o pipocar social brasileiro. 
 
O ciclo de protesto inaugurado com as revoltas no mundo árabe continua em aberto. E, apesar de que todos esses processos de mudança, de emergência do mal estar dos de baixo, partilham elementos em comum, não são cópia e nem decalque. Cada um deles responde às suas próprias particularidades, contextos, experiências… e, assim, escreverão sua história. No entanto, é inegável uma dinâmica de contaminação mútua, e mais ainda em um mundo globalizado, fortemente conectado e com o papel chave e propulsor das redes sociais e dos meios de comunicação. 
 
A indignação expressa nesses dias no Brasil significa sua entrada no continente latino-americano referência das lutas sociais recentes contra o neoliberalismo e o imperialismo. Apesar de que os protestos de massa de estudantes no Chile, em 2011, já demonstravam a saturação da juventude para com uma classe política subordinada aos interesses dos mercados. O atual protesto brasileiro, porém, com todas as suas particularidades, reproduz e, ao mesmo tempo, reinventa discursos, uso de ferramentas 2.0, atores… do ciclo de protesto indignado global. 
 
Os jovens das grandes cidades, esquecidos da política nas altas esferas são os que, uma vez mais, encabeçam a luta. Na maioria, não organizados, muitos deles expressam por primeira vez seu descontentamento tomando as ruas, ocupando o espaço público e fazendo sua voz ser escutada. O que começou como um protesto contra o aumento abusivo das tarifas do transporte público, em um dos países com as taxas mais altas em comparação com os salários populares, derivou em uma mobilização cidadã sem precedentes, a mais importante na história recente do país. 
 
A corrupção, a desigualdade, os péssimos serviços públicos, os grandes eventos e as infraestruturas faraônicas que esvaziam os cofres públicos… são somente algumas das causas. Há também o desgosto com uma classe política que blinda as práticas corruptas, surda e indiferente às demandas sociais, com banqueiros e tecnocratas viciados na usura e no roubo, conservadores religiosos no poder, que ditam leis para “curar homossexuais”, em uma cruzada contra as liberdades sexuais e reprodutivas; e latifundiários assassinos de povos indígenas e ecologistas. Descontentamento latente que, finalmente, explode. 
 
Ante tal mobilização social, as autoridades de dezenas de cidades, entre elas o Rio de Janeiro e São Paulo, tornaram sem efeito o aumento nas passagens de ônibus. A resposta oficial, porém, chegava tarde. Como antes em Sidi Bouzid (Túnis) ou Taksim (Turquia), a mecha já havia sido acesa. O que começou como uma expressão de raiva ante uma injustiça conectou-se a um mal estar muito mais profundo. E o medo começou a mudar de lado. Ficou demonstrado que a indignação é patrimônio da humanidade. Agora é a vez do Brasil. Quem será o seguinte? 
 
*Tradução: Adital .

quarta-feira, 19 de junho de 2013

"Transporte coletivo gratuito é tão viável quanto o SUS”

O engenheiro Lúcio Gregori, secretário de Transportes na cidade de São Paulo no governo Luíza Erundina (1989 a 1992), argumenta que a política tributária no Brasil impede a aplicação da gratuidade no transporte coletivo, tão viável quanto o SUS (Sistema Único de Saúde), escolas públicas e coleta de lixo.
A entrevista é de Angela de Paula e publicada pelo jornal ABCD Maior, 15-06-2013
Gregori avalia que uma das formas de se pressionar por um transporte mais barato é fazer justamente o que os jovens paulistanos estão fazendo: ocupar as ruas e cobrar a redução da tarifa. Em sua opinião, transporte não é uma questão técnica, mas um debate em que está colocada a disputa pelos recursos públicos.
Eis a entrevista.
Como o sr. avalia o modelo atual de transporte coletivo no Brasil, em especial da região metropolitana de São Paulo?
Avalio como sendo tradicional, e uma tradição ruim, que é a de transformar o transporte coletivo numa atividade econômica atraente para o setor privado e que acaba sendo prejudicial para as pessoas que usam o transporte e para a cidade como um todo. Três fatores contribuem para isso: o primeiro é o sistema de concessão de serviço público por tempo muito prolongado, podendo chegar a 25 anos, o que vai contra a dinâmica das cidades e causa contradições de interesses futuramente. O segundo é o modelo de vincular o transporte coletivo ao pagamento da tarifa e tratá-lo como um negócio qualquer, sendo que é um serviço de utilidade pública. O terceiro ponto é a priorização do transporte individual motorizado. O resultado é um transporte coletivo ruim e caro, e o grande sonho de todos é ter um carro para se libertar, levando a congestionamentos, estresse, poluição e mal funcionamento das cidades como um todo. O cidadão tem o direito de ir e vir, mas não tem como exercê-lo, sendo sonegado o acesso da população a vários serviços básicos, culturais, enfim.

Memória da 1ª Assembleia Popular e Horizontal (pelos rumos das movimentações em Belo Horizonte) realizada no dia 18 de junho


Presentes: mais de 500 pessoas
O número de presentes participantes, infelizmente, foi limitado pelo local da realização. Há relatos de muitas pessoas que, por não conseguir enxergar a arena de falas, preferiu não ficar.

Dinâmica: Fala aberta, por 2 minutos, a qualquer um que manifestasse vontade. Ordem definida por inscrição. Mais de 100 pessoas puderam ser ouvidas. Por meio das falas e de acordo com as manifestações de apoio da Assembleia seriam levantadas pautas de prazo imediato e curto, e ainda listados principais temas de discussão na Assembleia.

Ações IMEDIATAS discutidas e votadas.

1. AGENDA
Quinta, 20 de junho, Ocupação Praça Sete às 17h em integração aos atos espalhados pelo Brasil.
Sábado, 22 de junho, Concentração Praça Sete às 10h em mobilização pelo jogo da Copa.
Domingo, 23 de junho, Segunda Assembleia Popular dos manifestantes de Belo Horizonte às 15h

2. Definição do COPAC como CANAL DE REFERÊNCIA do movimento para conseguirmos a unidade.
- Após discussão foi consenso que a atuação do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa seria responsável por convocar os eventos nas redes sociais das marchas e ocupações aprovadas em Assembleia, para assim não pulverizar os atos e dissipar a já grande mobilização. Destaca-se que todas as ações e discussões são coletivas, horizontais e envolvem diversos indivíduos e movimentos presentes nas Assembleias.

3. Formação de GRUPOS HORIZONTAIS E PERMANENTES de articulação.
- COMUNICAÇÃO: estudantes e profissionais da área de artes e design responsáveis por orientar a produção de material (faixas, cartazes e bandeiras) para nossas marchas e ocupações.
- SAÚDE: estudantes e profissionais da área da saúde responsáveis por orientar o preparo dos manifestantes para marchas e ocupações e a minimização da violência policial contra a população (gases de efeito moral e lacrimogêneo, spray de pimenta, balas de borracha dentre outras formas)
-JURÍDICO: estudantes e profissionais da área do direito responsáveis por orientar e defender juridicamente todos os manifestantes antes, durante e depois que qualquer ato. Principalmente na busca e defesa dos presos políticos.
- interessados em voluntariar nesses dois grupos e em outros possíveis devem procurar o COPAC para melhor entendimento.

4. EXIGIR da Prefeitura Municipal a redução da tarifa do transporte “público” e a instalação do Passe Livre Estudantil e auditoria dos contratos do transporte público, lutando pela TARIFA ZERO.

5. Não deixar o movimento diluir caso alguma demandas iniciais sejam aceitas pela Prefeitura, tendo em vista o uso deste artifício por parte do Poder Executivo de várias cidades tentando minimizar a voz das ruas.