sábado, 10 de março de 2012

Mulheres organizadas interditam a Praça Sete e decretam a Praça 08 de Março no centro de Belo Horizonte

Lívia Bacelete, da Marcha Mundial das Mulheres

No Dia Internacional das Mulheres, cerca de 1.500 manifestantes decretaram que a Praça Sete de Setembro, símbolo de manifestações políticas e culturais de Belo Horizonte, dali para frente não mais será conhecida por este nome. Durante um ato público, foi instaurada a Praça 08 de Março, simbolizando a luta das mulheres pelo fim da opressão e do machismo no centro da capital mineira.

Manifestantes de movimentos feministas, sociais, sindicais, estudantis, coletivos culturais e outras organizações estiveram reunidas durante todo o dia, realizando ações pelas ruas da cidade. O ato público reuniu mulheres de todo o estado e foi construído a partir de três temáticas: Violência, Educação Infantil e Nosso Corpo nos Pertence.
Maria Aparecida Alves, a Cidona, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), veio do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, para participar da manifestação. “Entendemos que este não é um dia de ganhar presentes, mas um dia de fazer luta por uma transformação social, por justiça e igualdade, para que as mulheres não sejam violentadas em todos os sentidos”.
Enquanto as mulheres do SindiREDE-BH (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte), em assembleia, definiam greve da categoria a partir do dia 14 de março. As mulheres da Via Campesina e da Marcha Mundial das Mulheres ocupavam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cobrando agilidade na reforma agrária e denunciando o capital estrangeiro na agricultura, através das empresas transnacionais.


No fim da tarde, todas manifestantes se encontraram na Praça da Estação para dar início ao ato público unificado. Clarisse Goulart, da Marcha Mundial das Mulheres, explica que há 101 anos, o dia 08 de março foi definido, em uma Conferência de Mulheres Socialistas, como um dia de luta para as mulheres de todos os países pela transformação da sociedade e fim do machismo. “Nós, aqui em Minas Gerais, não fazemos diferente. Estamos juntas com mulheres do mundo inteiro na luta, principalmente, para acabar com a violência que tem matado as mulheres, seus sonhos e suas utopias”.


A primeira intervenção aconteceu em frente à Prefeitura Municipal, cobrando educação infantil pública e de qualidade para as crianças de 0 a 6 anos e tratamento digno para as professoras. De acordo as trabalhadoras da educação infantil, o prefeito Márcio Lacerda opta por não apostar na qualidade do atendimento pedagógico para as crianças, jovens e adultos estudantes da cidade. As mulheres denunciaram que, ao invés disso, ele investe o dinheiro da educação em projetos de assistência social, na aparência das unidades de ensino, em doações de uniformes, tênis e Kits escolares e em propaganda, vislumbrando as próximas eleições.
Seguindo em frente, foi feita outra ação em frente ao Palácio da Justiça, evidenciando a violência contra a mulher. As manifestantes se colocam contra a violência sexista e doméstica, a desigualdade salarial, o assédio sexual e moral no trabalho. Elas também denunciam o descaso dos governos com moradia, saúde e educação, a violência do Estado contra as mulheres pobres e negras e das grandes empresas do agronegócio contra as mulheres camponesas.


A próxima parada foi em frente ao supermercado Carrefour. As mulheres atacaram as transnacionais e o avanço do agronegócio, defendendo a reforma agrária com uma agricultura familiar e agroecológica, sem o uso de agrotóxicos. O agronegócio e seu modelo de agricultura industrial transformam o Brasil no maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009.
“O avanço do agronegócio no campo destrói nossas águas, nossas terras e rouba nossas riquezas naturais”, conta Marili Zacarias, da direção nacional do MST. Ela acredita que essa situação deve ser denunciada e só será revertida, quando o campo e a cidade estiverem unidos.

As mulheres seguiram em marcha e fizeram ainda duas paradas, a primeira em frente ao Ministério da Saúde e segunda na Igreja São José. Elas reivindicaram o controle de seus próprios corpos e o cobraram o veto da Medida Provisória 557, que prevê o cadastro obrigatório para as gestantes, violando a intimidade da mulher e ampliando o controle do Estado na gravidez.
As manifestantes exigem que o Ministério da Saúde e o governo federal, em conjunto com a sociedade civil, enfrentem o debate do aborto inseguro, que é a terceira causa de morte materna no Brasil. Elas defendem a necessidade de políticas de atendimento às mulheres que decidem interromper uma gravidez indesejada.
“Nem os papas, nem os juízes, nem os homens engravatados vão dizer o que nós, mulheres, temos que fazer com nosso corpo”, afirma Clarisse Goulart, da Marcha Mundial das Mulheres. Ela explica que o aborto é um problema de saúde pública, mas é também uma questão de autonomia das mulheres.

Na parada em frente à igreja, as mulheres atacaram o controle ideológico feitos pelas religiões em relação à autonomia sob seus corpos. Eduarda Figueiredo, da Associação Lésbica de Minas (ALEM), afirma que as lésbicas, bem como toda a comunidade LGBT, têm sofrido com a bancada evangélica, com o apoio da igreja, que vem barrando as propostas de políticas públicas contra a homofobia. “Estamos na rua justamente para demonstrar que temos orgulho de ser assim, isso não é doença, não é pecado, não é amoral, nós só temos uma manifestação de amor diferente”.
A marcha continuou até a Praça Sete. Neste momento, o local foi interditado por mulheres que estão construindo sua autonomia. Com uma animada e colorida ciranda, elas decretaram a inauguração do novo espaço público da cidade: a Praça 08 de Março.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Mulheres ocupam a sede do Incra em Minas Gerais no Dia Internacional da Mulher

Lívia Bacelete, da Marcha Mundial das Mulheres

Cerca de 500 mulheres da Via Campesina e da Marcha Mundial das Mulheres ocuparam hoje (08) pela manhã a sede do Incra em Minas Gerais. A ocupação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas 2012 e dá continuidade à luta das mulheres em nível nacional, regional e local por uma sociedade justa e igualitária.
A ação tem como objetivo denunciar o capital estrangeiro na agricultura, através das empresas transnacionais, e quer chamar a atenção da sociedade para o modelo destrutivo do agronegócio para o meio ambiente. O agronegócio ameaça a soberania alimentar do país e a vida da população brasileira, afetando de forma direta a realidade das mulheres.
As mulheres cobram agilidade na Reforma Agrária, pois há seis anos nenhuma área é destinada a este fim em Minas Gerais. Atualmente, 3.700 famílias vivem em condições precárias em 50 áreas de acampamento no estado à espera da reforma agrária.
No município de Felisburgo, Vale do Jequitinhonha, cinco trabalhadores rurais Sem Terra foram assassinados há 8 anos. O fazendeiro Adriano Chafick, mandante do crime, continua em liberdade. As famílias estão ameaçadas de despejo, pois a justiça expediu mandado de reintegração de posse em dezembro de 2011. A área deveria ser desapropriada por crime de violência no campo e por crime ambiental, mas o Novo Código Florestal beneficia o fazendeiro.
Diante disso, as mulheres do campo e da cidade se manifestam contra o novo Código Florestal, que privilegia os setores ruralistas que apoiam a anistia para quem desmatou até julho de 2008. Denunciam o agronegócio e seu modelo de agricultura industrial, que transforma o Brasil no maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009.
As manifestantes também reivindicam assistência técnica e crédito para as mulheres, implementação de cirandas infantis para as crianças de 0 a 6 anos e restaurantes comunitários nas áreas de reforma agrária.
Com a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas 2012, a Via Campesina e a Marcha Mundial das Mulheres querem combater todas as formas de opressão e violência que atingem, principalmente, as mulheres. Dados da “Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180”, mostram que das mulheres que denunciaram terem sofrido violência em 2008, 91% são da zona urbana e 4,7% da zona rural, o que evidencia as dificuldades de acesso das mulheres camponesas, inclusive para fazer a denúncia.